
"Colégio. Faculdade. Emprego."
Essa é a boa frase de Dwayne Hoover, no filme de ontem à noite o Little Miss Sunshine. Afinal de contas, na sociedade extremamente visual e competitiva de hoje, o que sobra pra aqueles que não se adaptam ao modelo?
É o que nos convidam a pensar Jonathan Dayton e Valerie Faris,conhecidos diretores de clipes de bandas como o Red Hot Chilli Peppers e Smashing Pumpkins e que agora aparecem como diretores desse filme.
A sinopse pode desencorajar um pouco: Família norte-americana desajustada se une para levar a filha caçula a participar de um concurso de beleza infantil na Califórnia.O interessante é que apesar de focalizar o concurso de beleza infantil, o roteirista Michael Ardnt inclui esses tipos fadados ao papel de perdedores, todos juntos nessa mesma família, pra desenrolar a questão de qual o lugar no mundo destinado ao inadaptados: tio Frank [Steve Carrel] suicida fracassado, gay e número 1 em análise da obra de Proust perde o emprego, o título e o namorado pra um tipo canalha e rico que aparentemente já fez algumas plásticas. O pai [Greg Kinnear], criador de uma doutrina para alcançar o sucesso, e que no decorrer do filme demonstra toda a falibilidade de seu método. O irmão [o mesmo da frase que dá nome a esse texto - Paul Dano], que percebe a decadência da família, se enclausura numa mudez disfarçada de promessa e nutre um sonho que, tanto quanto sua irmã, talvez não seja “capaz”de realizar. A mãe conciliadora e quase-louca, interpretada pela bonita Toni Collette, que pra não ser taxada como perdedora em frente ao marido, esconde seu vício.
Sobram ainda o vovô-cheirador, que é o único que tenta aproveitar como pode o resto-de-vida que ainda tem, além de Olive que aos 7 anos se vê em frente ao seu primeiro-maior-desafio: ser coroada a nova Pequena Miss Sunshine. Olive, que ainda não viveu grandes decepções, sonha com o título apesar de desconfiar que não conseguirá, cada vez que se aproxima dele. E vovô, que já não sonha, é aquele que mais lhe apóia.
Sobram ainda o vovô-cheirador, que é o único que tenta aproveitar como pode o resto-de-vida que ainda tem, além de Olive que aos 7 anos se vê em frente ao seu primeiro-maior-desafio: ser coroada a nova Pequena Miss Sunshine. Olive, que ainda não viveu grandes decepções, sonha com o título apesar de desconfiar que não conseguirá, cada vez que se aproxima dele. E vovô, que já não sonha, é aquele que mais lhe apóia.
E o filme nada mais é do que isso: uma família cujos membros estão submersos demais em suas questões pessoais e aparentemente já nem se importam uns com os outros. Além de estarem todos deslocados dentro dos papéis que lhes cabem na encenação social de cada dia.

E o mais engraçado foi ver ali meu pai, minha mãe, eu e eu-mesma várias vezes.

7 comments:
éissogeo. E em português o título é qual mesmo? Se enxergar em filmes é uma parada realmente! Falando em cinema,talvez já tenhas o endereço do blog, mas lembra do Adolfo, o cineclubista? Pois é esse cara devia estar era em algum cargo de cultura aqui em Belém, como disse outro dia o Lucas. Na minha opinião ele é mesmo o melhor crítico por aqui em atividade. Pena não estar nos jornais aos domingos. Mas sei que é provável ele até se orgulhar disso na verdade, do jeito que Belcity anda...
http://bressonianas.zip.net/
ô utopista da imagem, a gente só se fala por aqui?
:)
sim, eu gostava das mostras improvisadas q o Adolfo promovia. lembra daquela dos filmes do Syberberg? Junto com isso ele tava organizando a fundação do Cineclube Pedro Veriano. mas acho q não deve ter dado certo, de acordo com o q eu conheço de Belcity [gostei desse apelido afrescurado.]
brigada pelo link! vou passar a ler o cara!
ah, o título em português é Pequena Miss Sunshine.
:*
O Adolfo é o Henri Langlois de Belém. Assim como o cinéfilo francês criador da Cinamateca que, além de resgatar a memória dos filmes antigos, promoveu debates acalorados sobre a estética fílmica, lançando a base para o movimento da nouvelle vague.
Esses filmes que nos refletem sem que nem mesmo os diretores imaginem uma ação mais íntima no espectador são necessários até mais do que aqueles que têm como principal questão algo que eu não sei o que é. (texto só enrolação, o meu)
Vejamos o que há de ser visto.
little miss sunshane é a radiografia da negação de ser um perdedor na micro estrutrura familiar. A sociedade perdeu, esta perdendo... Mas voCê pode seguir alguns passos e se seguir corretamente será um vencedor( e se for o projeto do pai da pequena miss chegará mais rapido ainda)
Porque, como diria a lata de Coca-cola, mais importante que a beleza é o conteúdo.
Orra, agora eu vi com meus olhos através de suas palavras o que esta dentro de sua cabeça...antes era só fragmentos. Gostei de ver.
(...)
"As vezes acho que vemos filmes, para encontrar uma história parecida com a da gente, ou, vemos filmes para ter emoções, coisas que raramente temos na vida real, talvez por medo"
(...)
Bem legal a "resenha"(é resenha, né?)
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